segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O que aconteceu de memorável em 2011? (parte 1)

   Foi um ano interessante em vários aspectos, pro mundo e pra mim.
    Logo em janeiro, eu ainda estava de férias, fui à casa de praia de uns tios passar alguns dias, mas em um dia chuvoso por não poder ir à praia fomos à uma Lan House, foi onde eu vivi uma das ou a coisa mais assustadora da minha vida. Meu primo era o único conhecido que eu tinha lá e eu era o único conhecido dele lá naquele dia, estava muito quente e abafado, o ventilador e o ar condicionado estavam desligados e nós estávamos jogando C.S. um contra o outro, quando de repente meu primo começa à reclamar que seus dedos estão se movendo involuntariamente, ele me disse:
_Pedro olha isso! Meus dedos tão se mexendo sozinhos.
   Sua mão esquerda estava sobre o teclado, claramente dava pra ver seu dedo médio tremulamente escorregando da tecla W para S e de S para X. Não sei o que passou pela minha cabeça que eu não considerei aquilo como grande coisa, mas na tentativa acalmá-lo menti pra ele:
_Não te preocupa, isso acontece direto comigo.
_Nunca aconteceu comigo!
   Ele estava muito nervoso, mas eu não sei porque não me importei muito com aquilo.
   Como eu estava usando fones de ouvido não deu pra ouvir nada direito, mas depois de algum tempo percebi que ele havia desaparecido do jogo. Ele, na vida real, estava do meu lado, havia apenas a divisória que existe entre os computadores de qualquer Lan House, quando eu percebi que ele havia sumido do jogo eu tirei os fones de ouvido e, ainda olhando pra tela do computador, chamei por ele. Foi nesse momento que eu ouvi o som de alguma coisa se batendo vindo do lado em que meu primo estava, eu olhei pra ele e vi que ele estava de bruços se debatendo em cima da poltrona, com seus braços sacudindo assustadoramente por cima do teclado e do mouse do computador, sua cabeça estava inclinada para perto de mim e sacudia, ele gemia sem parar e seus olhos estavam avermelhados e entreabertos apenas com a parte branca aparecendo. Fiquei aterrorizado e confuso, fiquei parado por uns cinco segundos esperando que ele parasse aquilo e dissesse algo como "HAHA! te assustei! otário", mas não parou, ele continuou naquele estado de transe e, como ele estava enrolado nos fios do mouse, do teclado e dos fones de ouvido, eu imaginei que algum fio estivesse desencapado e ele estivesse dando choques elétricos no meu primo, então tentei soltar ele dos fios sem muito sucesso, a poltrona em que ele estava tinha rodinhas embaixo, mas ele só não caiu porque os computadores em que nós estávamos eram muito próximos da parede, então ela segurou a poltrona do meu primo, mas ele foi escorregando para o chão, então uma mulher que estava do outro lado dele me ajudou a segurá-lo. Alguém de quem eu não me lembro tirou a poltrona dele e minha de perto pra que houvesse espaço pra alguém socorrer ele, mas quem?
    Um funcionário da Lan House, um cara jovem, não devia ter mais de 26 anos de idade chegou perto dele, se ajoelhou e tentou colocar seus dedos dentro da boca do meu primo pra segurar a língua dele, pois ele poderia se asfixiar com a própria língua, mas a boca do meu primo na abria de jeito nenhum. Ele já se debatia menos, mas continuava gemendo, então um homem alto, gordo, que usava uma camiseta branca com alguma estampa que me lembra a bandeira portuguesa se levantou de sua poltrona e disse em tom calmo e firme:
_Ele está tendo um ataque epilético.
   Uma mulher, que eu não vi, perguntou ceticamente:
_Como tu sabe?
   Não lembro exatamente o que o homem respondeu, mas foi algo bem vago como "sou especialista em epilepsia" ou "porque ele está se debatendo como alguém com epilepsia". A mulher não falou mais nada, mas o homem disse ao funcionário da Lan House:
_Não precisa segurar a língua dele. Pode deixar que não tem problema.
   O funcionário não disse nada e se afastou do meu primo. Naquele ponto da situação todos os clientes da Lan House estavam de pé, alguns olhando pro meu primo, outros olhando pra mim. Uma mulher que estava no caixa da Lan House me perguntou preocupada:
_Tu tá com ele? Tem o número do telefone dos pais dele?
   Eu estava sem telefone, meu primo também e mesmo que eu pegasse um telefone emprestado eu não saberia o número dos meus tios. Eu não sei se foi só impressão minha, mas eu acho que ela ficou brava comigo por causa disso. Ela, ou alguma outra funcionária da Lan House chegou perto de mim e me perguntou se meu primo já tinha tido isso antes, mas ele nunca tinha tido nada disso, nem um único desmaio. Também me perguntaram se ele estava usando algum remédio, se tinha usado alguma droga, qualquer coisa que pudesse ter causado aquilo, mas nada, ele estava perfeitamente saudável.
   E enquanto tudo isso acontecia, meu primo permanecia no chão se debatendo cada vez menos, com o tal "especialista em epilepsia" e o funcionário da Lan House ajoelhados do seu lado. Então decidi fazer algo, falei pra mulher do caixa:
_Vai chamando a ambulância, os pais deles moram a duas quadras daqui, eu vou correndo lá pra avisar eles e já volto.
   E fui correndo o mais rápido que pude e quando cheguei lá o pai e a mãe dele tinham saído com amigos, lá estavam o irmão gêmeo do meu primo, o irmão mais velho de 25 ou 26 anos dele e a namorada do irmão. No caminho eu pensei "se a mãe dele estiver lá eu só vou dizer que ele desmaiou, não vou dizer que é um ataque epilético pra não assustar demais ela", mas como ela não estava em casa, logo que eu vi o irmão gêmeo na frente da casa eu falei pra ele:
_O Túlio desmaiou na Lan House!
_O que?
_Disseram que é um ataque epilético.
   O irmão mais velho estava nos fundos da casa me ouviu falando e foi correndo até a janela da frente assustado, me perguntou se eu tava falando sério, disse que sim e fomos todos até a Lan House. Eu corri mais rápido e cheguei antes na Lan House porque o irmão mais velho estava ligando para os pais e pra irmã deles pra avisar o que aconteceu. Quando eu cheguei lá fui até onde me primo estava, no mesmo lugar onde eu e a mulher que estava do lado dele deixamos ele, o cara da camiseta branca e algum outro homem estavam na volta do meu primo, ele estava com os olhos um pouco mais abertos e já não se debatia mais, os dois homens estavam falando com ele pra tentar fazer ele voltar à consciência, mas na hora eu não entendi e pensei que ele já estivesse acordado, pois ele parecia acordado, ele olhava para os lada com uma expressão assustada e com a boca aberta como se ele sentisse dor, mas ele não havia voltado totalmente à si, então falei pra ele que o irmão, o pai e a mãe dele já estavam vindo, então percebi que ele ainda estava inconsciente e fui me afastando indo em direção à porta até que o irmão mais velho chagou até mim me perguntou:
_Pedro, o que aconteceu?!
_A...a gente... - gaguejei
   O meu primo mais velho me interrompeu perguntando de novo agora mais bravo, então contei tudo pra ele sem gaguejar desta vez.
   Tudo isso aconteceu de noite.
   Poucos minutos depois a mãe e a irmã chegaram assustadas, contei tudo pra elas também. Quase juntos, não lembro se depois ou antes, chegou a ambulância com os paramédicos. Fiquei fora da Lan House ao lado da porta junto com a namorada do irmão mais velho, o irmão gêmeo, a irmã e a mãe. Uma pequena multidão havia se formado do lado de fora da Lan House pra ver o que estava acontecendo. Logo os paramédicos saíram de dentro com meu primo carregado nos braços, ele estava com uma expressão facial de muita dor, ele olhava para os lados, parecia que já havia recuperado a consciência, mas ainda parecia muito fraco. Quando os paramédicos chagaram perto da ambulância, minha tia, a mãe, e a minha prima, a irmã, foram se aproximando também para acompanharem meu primo pro hospital, não lembro o que o meu primo mais velho e a sua namorada fizeram, mas eu fui com o irmão gêmeo de volta pra casa, lá eu contei tudo pra ele.
   Há ainda o irmão do meio, mas ele estava na fazenda em que eles moram, então o irmão gêmeo ligou pra ele pra avisar sobre o que aconteceu. Não lembro quando o meu primo mais velho e sua namorada chegaram, mas lembro do carro do meu tio entrando pelo portão com meu tio, minha tia, minha prima e meu primo de volta do hospital, meu primo foi o primeiro a descer do carro, ele ria da nossa cara, parecia muito bem, então ficamos fazendo piadas dele, o irmão gêmeo ligou de novo para o irmão do meio e fala:
_Ei...o Tulião faleceu...calma!Calma!Tô só brincando!
   Minha vontade foi de bater nele até morrer por ter dito aquilo e acho que foi a mesma vontade que todos os outros da casa tiveram, mas já não importava mais pois todo o medo que eu senti já tinha se tornado apenas um susto.
   É importante lembrar que o médico diagnosticou o que o meu primo teve como uma convulsão, não como ataque epilético. No caso de uma convulsão meu primo poderia sim ter se asfixiado com a própria língua, o que significa que o cara da Lan House de camiseta branca poderia ter causado a morte do meu primo por ter feito um diagnóstico precoce.
   Eu admito que, por não saber direito o que o meu primo estava tendo, tive medo de que ele morresse lá na Lan House. Me senti muito mal por não ter levado ele à sério antes e também porque os gêmeos tem a minha idade e nós somos amigo desde que éramos apenas bebês, quando eu pensei que ele poderia morrer eu senti uma parte enorme da minha infância indo embora.
   Mas, felizmente, está tudo bem agora.

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